Da Pastoral Bíblica à Animação Bíblica da Pastoral – 50 anos do Mês da Bíblia no Brasil; artigo da Irmã Maria Aparecida Barboza

A Conselheira Geral da Animação Missionária da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, Irmã Maria Aparecida Barboza, assina o artigo “Da Pastoral Bíblica à Animação Bíblica da Pastoral – 50 anos do Mês da Bíblia no Brasil”, publicada pela Revista “Vida Pastoral”, edição número 341, setembro-outubro, da Editora Paulus.

O artigo oferece uma reflexão sobre a caminhada bíblica da Igreja no Brasil, especialmente neste tempo de celebração dos 50 anos da promoção do Mês da Bíblia Brasil. Citando o documento 97 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, a Irmã afirma que a “Igreja no Brasil, ciente dessa compreensão, assumiu a animação bíblica da vida pastoral como urgência de sua ação evangelizadora, por ver nela o caminho indispensável para encontrar a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo”.

Irmã Maria Aparecida Barboza é mestra em Bíblia, especialista em Pedagogia Catequética, membra do Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética da CNBB e coordenadora da Iniciação a Vida Cristã na Arquidiocese de Porto Alegre.

Confira, abaixo, a íntegra do artigo.

A PASTORAL BÍBLICA À ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORAL
50 ANOS DO MÊS DA BÍBLIA NO BRASIL

Ir. Maria Aparecida Barboza, ICM

Introdução

“O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que nossa alegria seja completa.” (1Jo 1,3-4)

Celebramos em setembro de 2021 os 50 anos do Mês da Bíblia. Motivo para olhar a caminhada feita, inserida no amplo contexto de passagem da pastoral bíblica para a animação bíblica da pastoral. Falar da pastoral bíblica e animação bíblica da pastoral nesse espaço fecundo da revista Vida Pastoral é reconhecer com gratidão o esforço dos paulinos na promoção e difusão da Bíblia, tanto por meio das traduções como das publicações. O ano de 2021 é consagrado pela Família Paulina como o Ano da Palavra de Deus, com o intuito de “em caminhos com a Igreja, renovar-nos através da familiarização, estudo e leitura orante das Escrituras, para viver da Palavra a fim que ela alcance a todos, especialmente as periferias existenciais e do pensamento” (Anúncio do Ano Bíblico da Família Paulina, Roma, 26 de janeiro de 2020).

Ao retomar o processo da pastoral bíblica que desencadeou na Animação Bíblica da vida e da Pastoral da Igreja no Brasil, muito nos alegra em perceber que a redescoberta da Bíblia, Palavra de Deus e da vida, bem como seu uso constante por todas as Igrejas Cristãs no Brasil, tem sido um marco significativo no crescimento da experiência da fé das comunidades espalhadas pelas diversas regiões do País. A centralidade da Palavra de Deus impulsiona a vida e o dinamismo da ação evangelizadora das comunidades eclesiais missionárias, assim intituladas pelos Bispos em sua 57ª Assembleia Geral, em maio de 2019.

Graças ao Concílio Vaticano II que conclamou todos os pastores a um efetivo compromisso com a difusão da Bíblia afirmando a necessidade do amplo acesso do povo de Deus, ao texto bíblico: “o acesso às Sagradas Escrituras seja aberto amplamente aos fiéis” (DV, 22), que aos poucos a Bíblia foi entrando na vida do povo pela porta da experiência pessoal e comunitária.

Num esforço permanente na missão de formar pessoas biblicamente animados, “a Igreja no Brasil, ciente dessa compressão assumiu a animação bíblica da vida e da pastoral como urgência de sua ação evangelizadora, por ver nela o caminho indispensável para encontrar a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo.” (CNBB, Doc. 97, n.35).

1. Cenário da origem do Movimento Bíblico, a Pastoral Bíblica e da Animação Bíblica da Pastoral

“Vós sois testemunhas disso” (Lc 24, 48)

Anterior a Pastoral Bíblica e Animação Bíblica da Pastoral no Brasil, encontramos o chamado Movimento Bíblico. No início do século XX, os papas manifestam à atenção para as novas abordagens e perspectivas lançadas sobre a Bíblia. O papa Leão XIII cria em 1902, a Pontifícia Comissão Bíblica e o papa Pio X, em 1909, o Instituto Bíblico. Para a Igreja no Brasil foi de grande importância a Encíclica Divino Afflante Spiritu (1943) do Papa Pio XII, encorajando e estimulando novas leituras e abordagens das Escrituras.

Um marco significativo para a Igreja no Brasil foi a realização do Primeiro Congresso Católico Brasileiro, em 1900, o qual decretou promover uma nova versão da Bíblia, que tivesse uma larga difusão entre os fiéis. Esta tarefa foi confiada aos Frades Franciscanos, que em fevereiro de 1902 publicaram o “Santo Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus, traduzido em português segundo a Tradução Vulgata Latina” (RICHTMANN, 1996, p.85).

Contudo, “a origem de um apostolado bíblico organizado se deu em 1947, onde foi oficializada a fundação da Liga de Estudos Bíblicos, por iniciativa dos professores de Sagrada Escritura, ex-alunos do Pontifício Instituto Bíblico” (TERRA, 1987, p. 43-44).

Fator significativo na Igreja no Brasil para o florescer bíblico, foi a implantação do Plano de Emergência (1960-64) e o Plano de Pastoral de Conjunto (1966-1970). Ambos marcaram significativamente a ação evangelizadora. No tocante à dimensão Bíblica no Plano de Emergência, é expressa nos textos referentes à Renovação Paroquial e a Renovação do Ministério Sacerdotal, a saber: “valorizar a pregação, tornando-a viva, simples, procurando encarnar a Palavra de Deus na vida concreta da comunidade, de modo a levá-la a uma conversão, aprofundamento de vida e promover e incentivar o Movimento Bíblico. É necessário que os paroquianos entrem em contato com a palavra de Deus, que a conheçam, amem e vivam” (CNBB, Doc 1. 2ª edição,1983, n. 4).

O vivo impulso dado ao incentivo para o uso da Bíblia, encontra sua plena confirmação no Concílio Vaticano II. O mesmo Concílio declarou que o objeto primário do trabalho pastoral da Igreja é a integração das Sagradas Escrituras na vida diária dos cristãos, e confiou ao episcopado a responsabilidade de realizar esta tarefa (TERRA, 1998, p. 85).

2. A Dei Verbum e o fruto da Pastoral Bíblica rumo a Animação Bíblica da Vida e Pastoral da Igreja no Brasil

“E a palavra de Deus crescia. O número dos discípulos multiplicava.” (At 6, 7)

É inegável a grande riqueza e abertura de horizontes que a Dei Verbum trouxe para o avanço da caminhada bíblica. A Igreja, povo de Deus, foi convidada a devolver a Bíblia aos fiéis, favorecendo e facilitando o estudo, as traduções e diálogo ecumênico. A Bíblia é o livro que une todos os povos, etnias e crenças, numa única linguagem: a linguagem da Palavra que é amor, fraternidade e solidariedade.

A Constituição Dogmática Dei Verbum, impulsionou grandes avanços, tanto no âmbito da exegese como no uso pastoral, catequético e litúrgico das Sagradas Escrituras.

Na continuidade do Concílio encontramos as Conferências da América Latina e do Caribe que muito contribuíram com o processo da Pastoral Bíblica e da Animação bíblica da Pastoral. A primeira Conferência realizada em 1955, no Rio de Janeiro, destaca a Bíblia na formação, recomenda que intensifique o Movimento Bíblico, que haja edições populares dos Livros Sagrados; Cursos bíblicos por rádio e correspondência; Semanas Bíblicas; e dia nacional da Bíblia (cf. no 58).

A segunda Conferência de Medellín, em 1968, destaca a Bíblia como força renovadora da ação evangelizadora. Nas recomendações pastorais é destacado “as comunidades devem basear-se na Palavra de Deus”. Elas são os agentes de apropriação da Bíblia. (Med 8. 10.15).

A terceira Conferência de Puebla em 1979, a Bíblia aparece na ótica dos pobres: A temática principal foi a evangelização no presente e no futuro da América Latina. Nas opções pastorais destaca a Bíblia como fonte principal da Catequese, a difusão da Bíblia, o apostolado bíblico e a leitura Bíblica contextualizada, (P. 981-1001).

Já a quarta Conferência de Santo Domingo, em 1992: Bíblia é acentuada como sementes do Verbo espalhadas nas Culturas. As Sagradas Escrituras, nutrem a vida dos fiéis, sendo imprescindível que os agentes da pastoral se aprofundem incansavelmente na Palavra de Deus, vivendo-a e transmitindo-a aos demais com fidelidade” (SD nº 9). Adverte para uma pastoral bíblica adequada com critérios (SD, nº38).

A grande novidade para a Pastoral Bíblica foi a Quinta Conferência de Aparecida, em 2007. Destaca a Bíblia no processo formativo do discípulo missionário. O Documento recorda a prioridade nas traduções na língua indígena: é prioritário fazer traduções católicas da Bíblia e dos textos litúrgicos nos idiomas desses povos nativos (DAp 94). Salienta o aspecto positivo da animação bíblica da pastoral na formação do povo (DAp 99a). E propõe que a Pastoral Bíblica seja entendida como Animação Bíblica da Pastoral (DAp 248). Aqui está um passo decisivo para a ação evangelizadora da Igreja, conceber a Bíblia não mais como uma Pastoral, mas como dimensão que sustenta as demais pastorais. Destaca também, que a Leitura Orante favorece o encontro com Jesus Cristo vivo (DAp 249).

Outro destaque merece nossa atenção: a realização do Sínodo dos bispos em outubro de 2008, com o tema a Palavra de Deus na vida e na Missão da Igreja. O Sínodo procurou acentuar a importância da Bíblia na formação do povo. Contribuiu para ao avanço da caminhada Bíblica na Igreja e destacou a dimensão da Pastoral Bíblica a ser compreendida como Animação Bíblica da Pastoral. A Exortação Apostólica Pós-Sinodal, VERBUM DOMINI, nos ajuda a compreender a Animação Bíblica da Pastoral como um esforço particular pastoral em acentuar a Bíblia, Palavra de Deus na vida e missão da Igreja. O Sínodo convida toda Igreja a um empenho pastoral para ressaltar o ponto central da Palavra de Deus na vida eclesial recomendando incrementar a pastoral bíblica não como justaposição com outras pastorais, mas sim como Animação Bíblica da Pastoral (VD 73-74).

A Igreja no Brasil, além de sua ampla participação em preparação ao Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na Missão da Igreja, através do estudo e síntese do texto Lineamenta, dedicou uma Assembleia Geral com o tema central: Discípulos e servidores da Palavra de Deus e a missão da Igreja no mundo, com enfoque a Animação Bíblica de toda a Pastoral (CNBB, 2012. Doc 97) Desde então, em cada quadriênio, os bispos em suas Diretrizes para a ação evangelizadora, há um destaque particular para Animação Bíblica da vida e da Pastoral.

3. Passos e conquistas alcançadas da Igreja no Brasil rumo a Animação Bíblica da vida e da Pastoral

3. 1. A difusão do texto Bíblico

Com o terreno preparado desde 1947 através dos primeiros passos dados pelo Movimento Bíblico, começa a delinear uma vasta difusão da Bíblia entre os fiéis.
Segundo o P. Flodoaldo Proença Richtmann (RICHTMANN, 1966, p. 86), uma das primeiras tarefas dos membros da Liga de Estudos Bíblicos (LEB) foi a dedicação nas traduções da Bíblia. Outra iniciativa da Liga de Estudos Bíblicos (LEB) é a Revista de Cultura Bíblica (RCB).

Para os pioneiros dos anos 50, havia uma necessidade de um texto bíblico acessível para o povo. O grande interesse do povo pela Bíblia provocou uma oferta igualmente de grande de textos traduzidos diretamente do hebraico e do grego. Daí a importância de percebermos que “a partir da divulgação crescente da Bíblia da Ave Maria (1959), foram surgindo muitas outras traduções, como a Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, da Editora Paulus. Vale destacar o trabalho árduo do biblista Frei João José Pedreira de Castro, OFM. Hoje encontramos Bíblias para estudos acadêmicos exegéticos, outras de cunho mais pastoral, para o uso litúrgico-catequético etc.

3. 2. Semanas Bíblica Nacionais

A realização das Semanas Bíblicas Nacionais organizadas pelos exegetas brasileiros como resposta ao desafio lançado por Pio XII com a sua Encíclica magistral Divino Afflante Spiritu, promulgada no dia da festa de S. Jerônimo em 1943. Em 1947, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, realizava-se a PRIMEIRA SEMANA BÍBLICA NACIONAL (SALVADOR, Joaquim. 1975, p. 50-51). Ao encerrar-se a primeira semana bíblica nacional, foi redigida uma circular intitulada: “Resoluções da Primeira Semana Bíblica Nacional”, que continha as seguintes conclusões: instituição do Domingo da Bíblia; incentivar a publicação da literatura bíblica nacional; a fundação da Liga de Estudos Bíblicos – LEB e tradução literal da Bíblia para a língua portuguesa.

Entre as resoluções da Primeira Semana Bíblica Nacional, estava a realização, em datas aproximadamente fixas (cada dois ou três anos) de Semanas Bíblicas. Deste modo, foram realizados a partir de 1947, 20 Semanas Bíblicas Nacionais promovidas pela Liga de Estudos Bíblicos (LEB) com apoio dos Bispos e outras entidades. Além das Semanas Bíblicas Nacionais, realizou-se também na Igreja do Brasil, as Semanas Bíblicas Populares. A Primeira Semana Bíblica de caráter popular na Diocese de Natal RN, em 1947, promovida pelo Cardeal Dom Eugênio Sales e organizada pelos membros da LEB, sobretudo pelo Pe. José Ferreira Neto, SDB através do departamento Diocesano de defesa da Fé e da Moral. (SALVADOR, 1975, p. 50-51)

3.3- Os Círculos Bíblicos: um jeito dinâmico de evangelizar

Com o Concílio Vaticano II, a Bíblia foi ocupando cada vez mais espaço na família, nos grupos de reflexão e nas pequenas comunidades. Movida pelo desejo de crescimento na fé bíblica, a Igreja no Brasil desenvolveu toda uma prática de leitura e reflexão da Bíblia que muito contribui para o sustento da fé e da caminhada das pessoas. Círculos Bíblicos, grupos de reflexão, grupos de rua, são alguns sinais dessa presença viva da Bíblia no meio do povo, formas criativas de tornar mais próxima a Palavra da Escritura.
Juntamente com os círculos bíblicos, as Comunidades Eclesiais de Base, tem desempenhado um papel muito importante de Animação Bíblica. Onde o povo se reúne em torno da Palavra, nascem lideranças fortes; a comunidade resolve em conjunto com maior facilidade seus problemas; possibilita-se a experiência participativa da Igreja e surge a diversidade de serviços e ministérios, onde os leigos assumem seu protagonismo na Missão evangelizadora.

3.4- O Domingo da Bíblia ou Mês da Bíblia

Com a organização da LEB se desenvolveu um trabalho em torno de mobilização bíblica, dando origem ao mês da Bíblia. Em 1971, 50 anos atrás, a Arquidiocese de Belo Horizonte celebrava o seu Cinquentenário. As Irmãs Paulinas, na pessoa da Irmã Eugênia Pandolfo e lideranças que já trabalham com a Animação Bíblica, apresentaram por escrito, a Dom João de Rezende Costa e ao Conselho Presbiteral a proposta de realizar um vasto e profundo movimento bíblico durante o mês de setembro, que atingisse todos os segmentos da Arquidiocese. A proposta foi aceita, e em junho do mesmo ano, o Conselho Presbiteral nomeou uma Equipe para coordenar e impulsionar esta mobilização bíblica. A equipe definiu, assim, os objetivos do Mês da Bíblia, a saber: Infundir no povo a convicção que a Bíblia, Palavra de Deus, é por excelência o livro que deve ser inserido na vida de cada um; Fazer com que as famílias sintam a necessidade de ter em casa a Bíblia e transformá-la em livro de cabeceira; por ocasião do “Mês da Bíblia” constituir na Arquidiocese de Belo Horizonte um Centro Bíblico.

A equipe contou com a valiosa colaboração do biblista Frei Carlos Mesters, que ajudou a elaborar os folhetos para a divulgação e estudo da Bíblia, com o desejo de despertar o gosto pela Palavra de Deus e iniciar uma leitura bíblica permanente. Em 1975 a proposta se estendeu para todo o Regional Leste II e em 1976 com o slogan “Bíblia, Deus caminhando com a gente”, o Centro Bíblico de Belo Horizonte em parcerias com as Editoras Paulus e Paulinas, lançou o folheto dos círculos bíblicos BÍBLIA GENTE destinado a todo o Brasil. E assim, o Mês da Bíblia se tornou um marco Nacional. Até hoje, a Editora Paulus continua publicando e distribuído o folheto Bíblia-Gente, com os roteiros bíblicos do Mês da Bíblia.

3. 5- A Bíblia e as Campanhas da Fraternidade

Um fato marcante de experiência bíblica na Igreja do Brasil é a Campanha da Fraternidade, nascida em 1964 e realizada em cada ano no período da Quaresma, como uma forma de apelo à conversão, em vista da preparação para a Páscoa. Trata-se de uma iniciativa da Igreja no campo social, para chamar a atenção de toda a sociedade para situações e problemas que atingem a maioria da população ou minorias que são excluídas e ajudar na busca conjunta de soluções. A reflexão sobre estes temas é feita à luz da Bíblia, com um tema bíblico inspirador que ajuda os cristãos no processo de conversão e compromisso social, celebrando a vida sempre à luz das Sagradas Escrituras.

3.7- Mudança da linha 3 de Dimensão Catequética, para Dimensão Bíblico-Catequética

Um marco significativo da Pastoral Bíblica na Igreja do Brasil foi mudança de nomenclatura da Linha 3, que na 29ª Assembleia Geral de 1991, passou de Dimensão Catequética para “Dimensão Bíblico-Catequética”, com o desejo de acentuar melhor a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.

A dimensão bíblico-catequética expressa o chamado de toda a Igreja a se fazer permanente ouvinte da Palavra, assimilando-a sempre mais profundamente ao confrontá-la com a vida dentro do mundo e da História.

A partir das Diretrizes de 1991 a 1994, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética tem se empenhado de modo que em cada quadriênio, desenvolve as atividades que contemplem a unidade da Bíblia e da Catequese.

A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética sentiu-se a necessidade de um grupo de reflexão bíblica que pudesse ajudar no serviço de animação bíblica junto às dioceses. Nasceu assim o GREBIN (Grupo de Reflexão Bíblica Nacional), que é um grupo formado por representantes das Instituições que se dedicam ao Serviço da Animação Bíblica. É um espaço de articulação das Instituições Bíblicas, de intercâmbio de experiências e parceria em torno de ações comuns no campo da formação Bíblica. Hoje, intitulado GREBICAT (Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética).

3.8 A articulação da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética e as Instituições da Pastoral Bíblica.

Há um diálogo produtivo e uma caminhada conjunta entre a Comissão para a Animação Bíblico-Catequética e às Instituições Bíblicas, sobretudo, no estudo e escolha de temas para o Mês da Bíblia. Há um grande empenho em ações comuns no que se refere à formação, à produção de subsídios de Animação Bíblica da Pastoral. As Instituições que dedicam ao serviço da Palavra e que formam o GREBIN, tem seu marco significativo no avanço da questão bíblica na Igreja do Brasil. São elas: Serviço de Animação Bíblica (SAB), Movimento da Boa Nova (MOBON), Centro De Estudos Bíblicos (CEBI), Movimento Bíblico Nova Jerusalém; Centro Bíblico Verbo (CBV), Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB), Centro Bíblico PAULUS.

3. 9 Bíblia no diálogo Ecumênico, um fruto do Vaticano II

Nesses 40 anos, o povo católico cresceu bastante na intimidade com a Bíblia. Mas um marco do Concílio é o diálogo ecumênico. Os nossos documentos oficiais pedem insistentemente que se deixe de lado o clima de enfrentamento, de rivalidade buscando caminhos de unidade. A Bíblia é muito importante nessa busca, pois pode contribuir para o encontro de todos os cristãos. Vale a pena ressaltar os empreendimentos ecumênicos lançados aqui em nosso país: as revistas especializadas para agentes de pastoral, como a Estudos Bíblicos e a RIBLA (Revista de Interpretação Bíblica Latino-americana), bem como a coleção dos Comentários aos livros bíblicos, todos numa perspectiva ecumênica, lançados pelas editoras Vozes (católica) e Sinodal (luterana). A Igreja no Brasil vem incentivando a produção de textos que aproximem os cristãos das diversas denominações e aprofundem as relações fraternas. Um destaque a ser dado é as Campanhas da Fraternidade em nível ecumênico e a Semana de Oração pela unidade dos Cristãos. A intenção é abrir, cada vez mais, caminhos para uma conversa construtiva em prol da unidade na fé, esperança e caridade, tornando visível o testemunho do quanto estamos unidos no amor de Jesus. Uma boa leitura bíblica, atualizada, tem um papel importante no diálogo sereno e construtivo que será um enorme benefício para todas as Igrejas envolvidas.

3. 7 Lectio Divina ou Leitura Orante da Bíblia

Cada vez é mais notável a leitura orante da Bíblia e da vida, nos pequenos grupos, “igrejas domésticas” (LG 30; CIC 1655). Ela contribui também para uma maior liberdade de expressão, diálogo e comunhão com as culturas e religiões. A Palavra de Deus não é mero material de estudo: é chamada a um diálogo reverente. Nosso povo, com muita sabedoria, valoriza a oração. Com a Bíblia, bem usada, cresce na espiritualidade, em todos os sentidos. A oração centrada na Bíblia é a grande valorização do nosso texto sagrado. Há muito se vem difundindo, com regras simplificadas, a prática do antigo método da leitura orante que já era utilizado por muitas congregações religiosas e tem um lugar especial na Tradição da Igreja. A divulgação deste método tem trazido profundidade e alegria para a oração do povo, em todas as classes sociais. Intensificar esta prática trará grandes benefícios às pessoas no nível pessoal e comunitário. O método da Leitura Orante é uma ajuda valiosa para o aprendizado da vida de oração através da Bíblia. Tanto a V Conferência como a Verbum Domini acentuam a importância da leitura orante da Bíblia.

Considerações finais

Desde a DEI VERBUM até a VERBUM DOMINI, é possível perceber o esforço criativo na Igreja do Brasil para acentuar a Palavra de Deus em sua Vida e missão evangelizadora.
Com o espírito inovador das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1192), Aparecida (2007), o povo cada vez mais busca ler a Bíblia e encontrar nela uma palavra orientadora e consoladora para a vida.

A Animação Bíblica da Vida e da Pastoral, é toda a atividade da Igreja, no esforço de anunciar com eficácia o Reino de Deus: “é preciso, pois que, do mesmo modo que a religião cristã, também a pregação eclesiástica, seja alimentada e dirigida pela Sagrada Escritura” (DV 21).

Contudo, faz-se necessário priorizar uma Animação Bíblica da Vida e da Pastoral capaz de formar discípulos de Jesus Cristo, servidores da Palavra é uma grande tarefa que o novo tempo nos impõe.

A Bíblia sendo assumida pelas Comunidades Eclesiais Missionárias como a FONTE e ALMA de toda PASTORAL, será uma das mediações privilegiadas na promoção da pastoral de conjunto, tão essencial para que a comunidade eclesial seja expressão de uma Igreja kerigmática, mistagógica e missionária.

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