Participando do Seminário de Formação e Animação Missionária, a Irmã Maria Freire da Silva, Diretora Geral ICM, fez uma recordação bíblico-histórico da Rainha Ester, cuja fala é o lema do seminário: “O meu desejo é a vida do meu povo”. Em sua mensagem, a Diretora Geral chamou as participantes à ação profética e missionária.
Abaixo, leia a íntegra da mensagem de abertura:
Queridas Irmãs, bom dia! É com imensa alegria que as cumprimento no início desse Seminário que traz como Tema: Vulnerabilidades, Violências e Tráfico de Pessoas: desafios e possibilidades de enfrentamento. E como Lema: “o meu desejo é a vida do meu povo”(Est 7,3). Estamos vivendo um contexto nacional e mundial que nos desafia, com diversas vulnerabilidades e uma delas é o que iremos trabalhar em nosso Seminário. Também nosso Lema, nos põe em movimento de desafios e das possibilidades de enfrentamento.
Na história humana, sempre se buscou meios, alternativas, se criou estratégias para resolver as situações mais difíceis de cada geração. Como em labirintos do poder se criou métodos e se encontrou frestas por onde espionar os fundamentos frágeis dos palacetes construídos a preço de sangue dos inocentes.
Este Seminário vem carregado da paixão de muitas mulheres consagradas que somos nós, mas, também traz como modelo o legado da rainha Ester.
Que junto com outras moças desfilavam diante do rei, Assuero encantado com sua beleza, seu porte elegante e firme, ostentando uma personalidade forte e um caráter digno, levando o rei a impor o diadema real sobre sua cabeça escolhendo para ser rainha no lugar de Vasti. Mal sabia Assuero, que estava coroando a jovem mais pensante e estrategista do seu reino. Ester somente obedecia a seu Deus, diante de quem se inclinava, e com quem fazia memórias das maravilhas divinas na história da libertação dos judeus da casa da escravidão. Quem sabe, o rei se inclinaria diante de sua beleza e ajudaria a salvar o povo. É certo que em sua candura, Ester não revelava fazer parte das mulheres que como Vasti queriam revolucionar a questão da mulher em sua sociedade.
O diadema real na cabeça de Ester não foi apenas um objeto de enfeite de um deslumbramento de um poder feminino que se adorna para seu marido. Mas reinaria junto, formaria parceria com o rei utilizando as estratégias possíveis e viáveis em sua operação na defesa da vida. Ester mostraria na hora certa suas habilidades intelectuais, toda força e riqueza de seu raciocínio, uma comunhão de entendimento, entre ela e Assuero deveria se estabelecer.
Para isso, era necessário descobrir a unidade e a relação estrutural da Côrte, e como argumentar com seu marido sobre as questões de estado. Sua calma imperturbável espalhava-se em seu belo rosto, que não permitia que seu pensamentos fossem percebidos. Precisava saber concordar com Assuero ou discordar de modo inteligente, e para isso, suas idéias deveriam estar ordenadas logicamente. Isso exigiam que estivesse a par dos detalhes dos acontecimentos e da caracterização do reino. O desenrolar desse enredo é a conexão dinâmica com a pessoa do rei. Sua alma era por demais resistente, não deixava que as emoções manipulasse sua imaginação a respeito de seu projeto na defesa do povo. Dessa forma, desenvolveria, um padrão de crítica a respeito de Amã que convencesse Assuero. Sua forma de resolver o problema era reivindicando uma punição para Amã e a salvação para os judeus.
Ester tinha enorme capacidade de resiliência, habilidade com o protocolo real. Era um esforço do qual Ester pretendia ser recompensada. Ia conhecendo os hábitos, as regras na tentativa de alcançar o conhecimento elevado do sistema para dominá-lo. Portanto, estava devidamente adaptada na estrutura da côrte. Podemos ler isso nas entrelinhas do texto, esse comportamento de Ester era apenas o prelúdio da posse sobre o rei. Ester não pensava em atos isolados mas, como em seu campo de visão apareciam as províncias, toda dimensão do reino, e nesse onde estava o povo judeu espalhado. Seu tio solicita que Ester vá a presença do rei, lhe peça clemência para salvar o povo a que ela pertencia: “Lembra-te, fê-lo dizer, dos dias de tua pequenez, quando eu nutria com a minha mão.”(4,8). Aqui três elementos são colocados sobre a responsabilidade de Esther: 1)a invocação ao Senhor, 2)a fala ao rei em favor do povo, 3)e o livrar o povo da morte. Certamente Ester sente uma carga sobre si, porém, o desafio que o tio lhe fez, a tira de sua zona de conforto e faz com que haja um deslocamento em sua vida. Agora que estava se habilitando à nova vida, surge esse problema tão difícil. Precisava reinventar-se, fortalecer-se, ser resiliente e fazer do rei seu aliado.
Ester conhece o protocolo real, sabe que que não pode aproximar-se do rei sem convite, o que podia lhe custar a vida se o cetro de ouro do rei não lhe fosse estendido; e já lhe fazia 30 dias que não era convidada a aproximar-se do rei. Ao receber essa notícia de Ester, Mardoqueu não se deu por vencido, desafiando-a, a perceber que sua elevação a realeza poderia ter sido em vista desse momento, para salvar o povo das mãos dos inimigos. Interpelada por Mardoqueu, Ester organiza o processo de libertação do povo convocando a população judaica a orar e a jejuar durante três dias e três noites, com ela e com suas servas para depois apresentar-se ao rei disposta até a morte. E Mardoqueu tornou-se instrutor das instruções de Ester junto ao povo.
Ester entra em jejum – Sua súplica a seu Deus era ardorosa, confiante, pois sabia que Ele conduzia a história do povo judeu. Era como se suas entranhas se rasgassem num grito de aflição e esperança. Exprime sua angústia, sua incompatibilidades com os festins reais, com os adornos de rainha, sua tristeza com sua nova condição, e por fim revela seu medo de morrer.
Após três dias de jejum e oração, Ester se imbuiu com a força do seu Deus e se vestiu de rainha com todo seu esplendor, com as melhores joias da Coroa. Suntuosa, belíssima, com uma postura altiva invocou ao senhor, tomou consigo duas servas e foi em direção ao trono real.
Guarda no coração a amargura, a insegurança e mostra em seu rosto, a jovialidade do belo, transmitindo segurança, exprimia tranquilidade. Diante de Deus Ester se preparou durante três dias, inclinou-se em sua dor, mas também em sua esperança. Tinha que liderar o plano de salvação de seu povo. Como rainha tinha seus compromissos com a Nação, mas, agora era a vida dos judeus, estrangeiros no reino da Pérsia. Após sua súplica ao Deus de Israel, tinha que sair do seu esconderijo e demonstrar sua força na arte de liderar.
Estava plena de uma força espiritual muito grande. Em sua oração, Ester havia pedido ao Senhor que pusesse em seus lábios um discurso atraente (4,17s). No entanto, bastou o olhar irado de Asuero, para fazê-la empalidecer e desmaiar. Havia uma distinção entre o rei no banquete, encantado com a beleza de Ester e o rei sentado ao trono, vestido para reinar sobre os súditos, sentindo-se onipotente, indisfarçável em seu semblante, era evidente em sua postura reinante. Enquanto no primeiro se divertia, se encantava com as mulheres, no segundo, planejava estratégias de guerras, maquinava a expansão do seu reino, tomava decisões. Teria Ester fracassado em sua missão?
No entanto, a mudança no comportamento do rei foi relevante, se colocando como irmão, elevando-se à categoria da fraternidade, na proximidade e na compaixão.
1. O Banquete é sua maior estratégia
2. Ester age politicamente ao pedir revogação do Edito assinado com o anel do rei.
3. O decreto de Ester fixou a lei dos Purim”(9, 29-32).
Fica para nós, a figura de uma mulher que com sua beleza desmontou o coração do rei e como seu cérebro pensante golpeou o sistema real revogando a lei em favor dos judeus.
Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral