O mês de outubro chega para nós carregando sorrateiramente uma grande riqueza, nos indicando os nomes de tantos santos e santas que seguiram Jesus Cristo na radicalidade do Evangelho. Celebramos dia 12/10, Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, cujo nome nos lembra sua ousadia. Através da lama do Rio Paraíba do Sul, que se apresenta na fragilidade de uma imagem, para assumir a fragilidade dos escravos e mostrar sua força como expressão de seu seguimento radical a Jesus Cristo, recordando a pesca milagrosa, onde Pedro e seus companheiros são convidados por Jesus a lançar novamente as redes: encheu dois barcos com o resultado da pescaria e as redes se rompiam (Lc 5,1-11).
No Rio Paraíba do Sul, em 1717, Aparecida aparece frágil, sem a cabeça pensante, pronta para ser ajudada pelos pescadores para depois libertar o escravo de suas correntes e das amarras dos poderosos. Aparecida ocupa o espaço, vai alargando, convocando, atraindo multidões para seu culto no intuito de encaminhar os peregrinos, os romeiros para o Cristo, o Filho de Deus. Aparecida representa a mulher da: a) Escuta fiel à Palavra de Deus, que lançou a rede do seu coração e disse Sim ao Senhor (Lc 1,38). b) O discernimento da Vontade de Deus, c) O diálogo permanente com o Senhor, na compreensão da Missão do seu Filho Jesus de Nazaré. d) A comunhão com o Projeto missionário a serviço dos pobres. Aparecida é a mulher de um relacionamento experiencial que retrata uma vida mergulhada no mistério da Encarnação do Verbo e da Ressurreição, resplendendo o amor compassivo e misericordioso de Deus.
Essa realidade mariológica compõe o testemunho contemplados pelos Padres e Mães da Igreja. Aqui trago um dos Padres do II século do Cristianismo: Inácio de Antioquia, (107) homem tragado pelo Mistério da Encarnação e totalmente pertencente ao corpo eclesial. Imerso na unidade divina, torna-se missionário da comunhão nas Comunidades circunvizinhas, fascinado pelo dinamismo cristológico e fascinando o povo na Comunidade.
A Eucaristia era o seu alimento e o motivo do seu dinamismo na missão. A Eucaristia, como a fração do Pão maior, do Corpo do Filho de Deus que se encarnou para restaurar em si a criação de Deus! Inácio de Antioquia dizia: “Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida. Quero pão de Deus, que é carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e, como bebida, quero o sangue d’Ele, que é Amor incorruptível (Rm 7,3).
Inácio foi um discípulo exemplar, capaz de assumir a causa do Evangelho até as últimas consequências. Inácio de Antioquia afirmava: “sois as pedras do templo do Pai, preparadas para a construção de Deus Pai, alçadas para as alturas pela alavanca de Jesus Cristo, alavanca que é a cruz, servindo-vos do Espírito Santo como de uma corda” (1995). Com esse pensamento Inácio demonstra sua experiência de um Deus Comunhão, Mistério de amor, através de metáforas utilizadas para as três pessoas. Ainda afirma Inácio: “Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito… a fim de que haja união, tanto física como espiritual”. A Palavra de Deus feita carne se estabelece como alimento da comunidade Corpo de Cristo, onde em sua vivência emerge o movimento trinitário de Deus.
Portanto, celebrar e vivenciar a Eucaristia como alimento do discipulado de Jesus Cristo, exige compromisso solidário com os pobres. Exigiu de Inácio uma doação completa, passando pela dinâmica do martírio. Inácio adentrou profundamente no Mistério, bebeu das fontes de salvação, animou as comunidades à vida discipular, deu centralidade à Eucaristia e à Palavra. Palavra e Eucarístia não se separam, isso norteou a vida de Inácio de Antioquia.
Que em outubro, mês missionário, possamos, a modelo de Maria e de Inácio, também dar espaço para essa verdade que se debruça sobre nós: o Cristo Senhor.
Abraço Fraterno,
Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.
INÁCIO DE ANTIOQUIA, “Carta aos Efésios”, in Padres apostólicos, col. Patrística vol. 1, Paulus, São Paulo 1995.pp.81-89.