Mãe Aparecida: Salve Maria, Salve alegria dos pobres!

Em outubro, a Igreja celebra tantos santos e santas de Deus que seguiram radicalmente a Pessoa de Jesus Cristo. No entanto, entre outros títulos, celebramos a Festa de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil.

Aparecida, título caro ao povo de Deus pertencente a Igreja Católica. Quem é brasileiro/a conhece a história da Mãe morena, mulher de tantas raças. Virgem no acolher a Palavra de Deus, virgem na experiência gestadora da Palavra e vigem no seguimento e na animação das Comunidades de seu Filho. Desde o II e o III séculos do cristianismo, o termo exemplaridade de Maria encontra eco na vida dos cristãos e sobretudo na catequese. Encontra paralelismo antitipico na construção da Eva-Maria, elaborada a partir da antítese paulina Adão-Cristo (Rm 5,12-21), baseado em Justino mártir, em Irineu de Lião, e Tertuliano. Como dizia Irineu de Lião: “Maria é a terra-virgem onde Cristo se faz primogênito”(Dc. p.1006,1995).

No século IV, o ascetismo estava começando a se formar na Igreja. A maior documentação sobre esse fato encontra-se na Vida de Santo Antônio, biografia de um monge cristão do deserto egípcio, escrita por Atanásio de Alexandria, onde se percebe uma vida disciplinada pela fé, através da oração e do jejum com libertação da tentação do demônio, travestido em forma de mulher para tentá-lo. Portanto, os apologistas do ascetismo cristão se apegaram à Virgem Maria como modelo de virgindade e auto-renúncia. Atanásio vai demonstrar essa realidade em sua carta às virgens, onde apresenta Maria em uma linguagem destinada a motivar as mulheres ascetas. Seguindo a tradição de Orígenes, que afirmava, em Maria encontra-se um modelo autêntico, permanente e insuperável na vida cristã, Atanásio mantém o fio condutor, e afirma que Maria possuía todas as qualidades. Demonstra que a mesma se orientava para o melhor de dois modos: a) era prazeroso operar retamente seus deveres e se mantinha fiel e íntegra no sentido da fé e da castidade; b) Maria era totalmente centrada em Deus, sem buscar fama ou visibilidade humana alguma. Diz que assim como a mosca é fascinada pelo mel, Maria era fascinada por seus deveres, permanecendo sempre em casa sem querer ser vista em público. Era totalmente voltada para o serviço aos pobres, em fidelidade às Sagradas Escrituras.

O retrato apresentado de Maria, tanto na sua fidelidade a Deus, como no serviço aos pobres e no progresso da perfeição, corresponde perfeitamente à figura bíblica mariológica. Os detalhes da vida cotidiana constituem intuições do autor além da influência apócrifa. Gregório Nazianzeno, um dos maiores teólogos da Igreja Grega recorre ao título Theotókos como um seguro e específico critério da ortodoxia, e com grande precisão expositiva, forma que crer na divina maternidade é indispensável para se ascender à divindade. Nazianzeno é o primeiro padre a utilizar o termo Theotókos (a Mãe de Deus) como verdade propriamente da ortodoxia, contra Apolinário, que após utilizar o termo Theotókos negava a verdadeira maternidade divina. O termo será indicado cinquenta anos depois, como critério e garantia de uma reta cristologia pelo Concílio de Éfeso (431). Também afirma a virgindade no parto, e o faz apresentando-a como modelo exemplar ascético. Afirma uma prévia purificação operada pelo Espírito Santo no ato da anunciação, fazendo-a capaz de conceber o Filho de Deus.

Em Aparecida, no Brasil, Maria permanece fiel às raízes bíblicas, às origens da Tradição. Maria aparece ornada da coroa imperecível, a coroa da vida(Ap 2,10). Sua coroa é a vitória dos povos de geração em geração, porque é a Bendita entre as mulheres(Lc 1,44), a mulher cantante das maravilhas de Deus na história do seu povo, grávida das esperanças messiânicas, em contínuo esperançar trazendo o colorido nas peles humanas, e a diversidade da beleza cultural dos nossos povos. É a linda “cordeira” vestida com as cores das culturas, debruçando-se sobre os devotos e lhe alcançando as graças que se derramam das mãos do seu Filho, com o olhar de ternura e de aconchego, de vigor e misericórdia, aprendida no colo do seu Deus. É o Olhar bondoso e curativo da Mãe que não se cansa de orientar os fiéis no caminho de Jesus Cristo. A Mãe Aparecida emerge sempre na vida das Comunidades peregrinas, rejuvenescendo a fé, dando ardor à ação missionária e mostrando o caminho. Em Aparecida, Maria é a Mãe da esperança de tantos que a contemplam, pedindo paz, alegria, sustentação da vida em todos os âmbitos. Mãe Aparecida, mulher que primeiro experimentou o abraço trinitário de Deus, totalmente acolhente do dinamismo da Ruah Divina, inteiramente entregue a encarnação do Verbo e carinho eterno de Deus Pai e Mãe. Em Maria, o Espírito afinou o violino do céu e cantou o salmo da vida nova.

Dia 12 de outubro, a Igreja celebra o Dia da Mãe Aparecida, mulher discípula anfitriã da Casa Comum, liderança perfeita no salão das antigas e novas gerações. Mulher ícone do mistério amoroso de Deus, patrona dos pobres e vulneráveis. Mãe Aparecida, mulher-modelo, arquétipo da Igreja-Mãe. Celebremos a grande Festa em sintonia com toda criação de Deus no alvorecer de um Novo Tempo!

Salve Maria, Salve alegria dos pobres!

 


Irmã Maria Freire da Silva.

Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

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