Artigo: A Bíblia ensina que “Deus não faz acepção de pessoas”

O livro dos Atos dos Apóstolos (2, 1-41) narra o Pentecostes, evento salvífico e fundante da Igreja. Assim como Jesus, durante sua vida pública, devolveu a todos o acesso direto e imediato a Deus Pai para além da prática da Lei judaica, nas primeiras comunidades cristãs, é o Espírito Santo sustenta os discípulos e discípulas no testemunho e anúncio do Querigma, isto é, o primeiro anúncio do núcleo identitário do cristianismo: paixão morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Salvador.

O Espírito Santo animou os seguidores de Jesus a levar o anúncio do Evangelho para além da Judeia e Samaria “até os confins do mundo” (cf. At 1,8). Naquele contexto, a cultura judaica apresentava-se como uma barreira quase instransponível por causa de seus ritos de purificação e restrição alimentar diante da mesa comum, a mesa eucarística dos cristãos. No entanto, a efusão do Espírito Santo no Pentecostes encorajou os apóstolos a transpor os limites estreitos da cultura frente ao anúncio universal da salvação trazida pelo crucificado-ressuscitado.

Vejamos um exemplo narrado em (At 10,1-48): foi numa das viagens missionárias que o apóstolo Pedro, fez a experiência de que Deus não faz acepção de pessoas. Ele estava na Cesaréia, foi chamado a entrar na casa de Cornélio e logo diz: “Vós sabeis que é proibido a um judeu aproximar-se dum estrangeiro ou ir à sua casa” (10,28). Após tomar conhecimento do motivo pelo qual foi chamado, sem hesitar, Pedro faz o anúncio explícito de Jesus, de tudo o que lhe aconteceu desde o batismo de João, como Jesus andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio porque Deus estava com Ele. Diz ainda: E nós somos testemunhas de tudo o que fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, suspendendo-o num madeiro. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia”. Pedro ainda estava falando quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviram a palavra. Aqueles que acompanhavam Pedro ficaram profundamente admirados vendo que o dom do Espírito Santo era derramado sobre os pagãos. Na sequência realiza-se o batismo.

Essa experiência foi fundante na vida da Igreja e do apóstolo. Em Jerusalém onde estavam os mais resistentes a aberta do cristianismo, Pedro se defende narrando-lhes o ocorrido (At 11, 1-18). Mais tarde na Assembleia de Jerusalém (At 15, 1-35) quando esse assunto aqueceu a discussão sobre a necessidade de anunciar aos pagãos como estavam fazendo Paulo e Barnabé, o testemunho de Pedro ajudou na decisão favorável à abertura do cristianismo.

Hoje a Igreja é portadora do anúncio do Querigma. Todo discípulo que faz a experiência do verdadeiro encontro com Jesus, torna-se um missionário. “Na generosidade dos missionários se manifesta a generosidade de Deus, na gratuidade dos apóstolos aparece a gratuidade do evangelho” (DAp, n. 31).

Anunciar o Evangelho é a missão primordial da comunidade cristã. As crianças, adolescentes e jovens de hoje necessitam desse testemunho, pois Deus não faz acepção de pessoas. Eis o desafio de viver a fé como um valor importante na construção de uma sociedade mais ética e solidária.

 

Ir. Élida Debastiani – ICM
Mestre em Ciências Bíblicas – Exegese pelo Pontifício Instituto Bíblico
Artigo publicado na Revista “O Santuário” da Arquidiocese de Santa Maria

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