Artigo mensal: A beleza da caminhada de Maria

O mês de outubro chega carregado de uma grande riqueza de santos, santas e padres da Igreja, discípulos e discípulas de Jesus que dinamizaram a vida eclesial. Entre esses, quero destacar: Santo Inácio de Antioquia, Bispo e mártir (17/10/107), homem da eclesialidade, centrado na Eucaristia e na Palavra de Deus, o que lhe deu força para enfrentar o martírio no seguimento radical de Jesus Cristo. Inácio de Antioquia, “quando este se refere a Jesus, o faz nestes termos: “nosso Deus, foi concebido de Maria, segundo a economia divina…”

Também celebramos a Festa de Santa Thereza D`Avila; Santa Teresa de Jesus, virgem e Doutora da Igreja (†1582); Patrona de nossa Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Mulher reformadora do Carmelo que trazia em seu nome os sinais de Jesus de Nazaré. Deu sentido à sua vida tendo como ponto de partida a entrega radical. É evidente que, “o sentido da vida é buscar por sentido na vida. É viver com intensidade, celebrando a simples beleza do inesperado”. Ora, “o inesperado só se manifesta quando esperado” (Heráclito). Inácio viveu e exortou os cristãos a vivência do conhecido que se revelou e que é o eterno fascínio do discipulado.

No dia 12 de outubro, celebramos o dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil. O título carrega em si a novidade e a força do Projeto de Deus no meio dos pobres. Mulher totalmente apaixonada pelo Projeto de Deus. Fez o itinerário no Caminho Sinodal de Jesus, pouco a pouco compreendendo como Deus lhe havia revelado a caminhada de Jesus desde seu nascimento, sua missão que se destaca no dinamismo da Cruz e da Ressurreição. Em Aparecida, Maria traz as marcas da fidelidade ao Senhor da história, que fez Aliança com Israel e, na plenitude do tempo, no kairós divino, inaugurou a Nova e Eterna Aliança no seu Filho amado. Em Aparecida, romeiros e devotos transbordam em seus corações ao suplicar graças a Senhora nossa Mãe, e agradecerem tantas graças recebidas. A composição e a recitação de hinos, homilias, sermões, orações dirigidas à Virgem têm um papel de destaque na liturgia desde os primeiros séculos da Igreja. Pode-se ver que “o cumprimento da promessa divina aparece já em Paulo, em sua Epístola aos Gálatas, 4, 4-5: “Mas, quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho que nasceu de uma mulher (…), a fim de remir os que estavam sob a Lei…”.

Maria é, pois, a nova Arca da Aliança de Deus com a humanidade, a pobre e limitada humanidade continuamente transfigurada pela glória de Iahweh. Jesus feito homem, na carne da mulher Maria, oferece-se ao alcance de nossos olhos e ao toque de nossas mãos, realização perfeita de nosso desejo de filhos e filhas de Deus. Desde o primeiro registro escriturístico, Maria está inserida no Plano divino de Salvação. No decurso normal do Tempo, isto é, na plenitude, as comunidades primitivas contemplam a realização da Promessa que passa pelo ventre de uma Mulher, sem prejuízos para a concepção do Mistério salvífico. (2006)

A encarnação do Verbo é o evento que possibilita ao ser humano contemplar a divindade que se humaniza. Maria aparece como a Serva humilde que atrai o olhar de predileção. A eternidade entra na efemeridade do Tempo: é o chronos que se faz kairós e o Verbo que se faz carne. No arco da História da Salvação, Maria se situa precisamente no tempo da plenitude. Seu lugar é no “centro escatológico” (definitivo) da história. O Filho de Deus torna-se filho de Maria. Ela serve de caminho para a vinda de Deus até nós em seu Filho. Filão literário popular, que encontra sua máxima expressão nos séculos II e III, na vasta produção dos escritos apócrifos e poéticos, traduzidas em reconfigurações artísticas, coloca em primeiro plano a figura e a vida de Maria. Também é notável a via ascética que culminará no século IV, através da comunidade ascética, onde Maria se apresenta como modelo e protótipo do mais perfeito seguimento de Cristo. Desde o II e III séculos do cristianismo, o termo exemplaridade de Maria encontra eco na vida dos cristãos e, sobretudo na catequese. Encontra paralelismo antitipico na elaboração Eva-Maria elaborada a partir da antítese paulina Adão-Cristo (Rm 5,12-21), baseado em Justino mártir, em Irineu de Lião, e Tertuliano.

A figura de Maria emerge intimamente associada à recapitulação e à recirculação salvífica de todas as coisas em Cristo. Cristo e Maria apresentam o caminho da vida em contraposição com o da morte. SPATARO (2017), citando uma frase de Francisco de Sales, diz que tem uma bela distinção entre uma partitura musical e a execução da mesma. A Bíblia é como uma partitura musical, mas, a vida de Maria é a execução perfeita e incomparável do concerto. Seguindo a tradição de Orígenes que afirmava, que, em Maria encontra-se um modelo autêntico, permanente e insuperável na vida cristã, Atanásio mantém o fio condutor e afirma que Maria possuía todas as qualidades. Demonstra que a mesma se orientava para o melhor de dois modos: a) lhe era prazeroso operar retamente seus deveres e se mantinha fiel e íntegra no sentido da fé e da castidade; b) Maria era totalmente centrada em Deus, sem buscar fama ou visibilidade humana alguma. Diz que assim como a mosca é fascinada pelo mel, Maria era fascinada por seus deveres, permanecendo sempre em casa sem querer ser vista em público. Era totalmente voltada para o serviço aos pobres, em fidelidade às Sagradas Escrituras

É notável a beleza que constitui a caminhada de Maria. A figura de Maria, como habitação do Verbo, que pode posteriormente ser vista como ícone da encarnação. Dessa forma, compreende a virgem como templo de salvação, plasmada, modelada, divinizada pelo Espírito, a cheia de graça.

 

 

Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

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