O Advento, como tempo de preparação para a solenidade do Natal, surgiu pela primeira vez no final do século IV, na Espanha e na Gália. Dura três semanas e precede a festa da Epifania, dia em que, segundo o costume oriental, se administrava o Batismo.
Em Roma, o Advento apareceu na segunda metade do século VI e desde a época do Papa Gregório Magno (+ 604) durou quatro semanas. A genealogia de Cristo indica o quanto o Salvador estava intimamente ligado ao seu povo e à história humana. O anjo Gabriel prediz o nascimento de João Batista e depois é enviado a Nazaré. Maria vai ter com Isabel e canta o hino de gratidão: Magnificat: “A minha alma glorifica o Senhor”. O tempo de preparação para o Natal deve servir-nos de introdução à compreensão do mistério da presença de Cristo no meio de nós. O Senhor veio, o Senhor está presente, mas devemos sentir a necessidade da salvação que vem do Senhor, compreender o amor inconcebível de Deus, acolher os dons do céu. Como nos convoca o profeta Isaias:
“Desperta, desperta, mune-te da tua força, ó Sião!
Põe os teus vestidos de gala, ó Jerusalém, cidade santa,
…Sacode de ti o pó, levanta-te Jerusalém!”(Is 52,1-2).
Despertar! É Advento do Senhor! Quanta beleza e esplendor esse tempo nos faz vislumbrar com alegria, com a mente e o coração em harmonia, para acolher Aquele que Vem! O Advento nos mune da força iluminadora de Deus, conduzindo nosso olhar para a busca contínua da Estrela prometida, que iluminará a noite daqueles e daquelas que buscam o Senhor. Advento é tempo de preparar nossas vestimentas de gala para dançar a Festa que se inicia no estábulo, sob o olhar de uma criança tão pequena e tão grande deitada em uma manjedoura. Toda Preparação convida a comunidade, as nações, a sacudir o pó e levantar-se, a banhar-se para festejar, explodindo em uma canção, como nos disse São Basílio no século IV: “Nós também explodimos em uma canção de exultação”.
Ao mesmo tempo, o Advento conduz a Comunidade a cantar as Maravilhas do Senhor: “Cristo nasceu, cantai glória, Cristo desce do céu, ide ao seu encontro; Cristo está na terra, fique de pé. Cante ao Senhor de toda a terra. E para resumir essas duas coisas em uma: Alegrem-se os céus, regozije-se a terra, pois aquele que é do céu, está agora na terra. Cristo tornou-se carne, tremer e regozijar-se; tremer pelo pecado; Alegre-se na esperança. Cristo nasce da Virgem […]. Quem não adora Aquele que é o princípio? Quem não louva e glorifica aquele que é o fim? Novamente a escuridão se dissipa, a luz é criada novamente, o Egito é novamente atormentado pelas trevas, Israel é novamente iluminado por meio do pilar. As pessoas que É na escuridão da ignorância, que ele vê a grande luz do conhecimento. Coisas velhas são No passado, bem, novos nasceram”(G. Nazianzeno). No brilho resplandente das estrelas todo povo canta um poema: Vem, Redentor dos povos, ela se orgulha de dar à luz como virgem; Que surpreenda todas às vezes: nascimento que convém a Deus. Seu presépio já está brilhando e a noite respira sua luz. Que nenhuma escuridão jamais obscureça e que brilhe com fé incessante (Ambrósio de Milão). Enchamos seus tesouros com diferentes dons, para que no dia santo possamos acolher os estrangeiros, as viúvas, e vestir os pobres! (Massimo di Torino).
Advento, tempo de refazer as perspectivas, de buscar novos caminhos que leve a novidade do Natal. Tempo de conversão, de entrega sempre crescente ao Menino que vai chegar. Tempo de lutar e defender os princípios da Casa Comum, no respeito a criação, as espécies, a terra e o mar, em um abraço fraternal com toda a humanidade, sem distinção de gênero.
O tema do Jubileu “Peregrinos da Esperança” está fortemente ligado ao tempo litúrgico do Advento, durante o qual, como nos lembram os Padres da Igreja, celebramos a tríplice vinda do Senhor: a sua encarnação, a sua segunda vinda em glória, a sua presença continua entre nós. Precisamente a pregação de João Baptista recorda-nos, como a “vinda” é uma das principais características de Jesus Cristo no seu Natal: é provavelmente um verdadeiro título, com o qual a comunidade cristã primitiva indicava o Filho de Deus, ajuda-nos a redescobrir todos os dias a ação de Deus por nós e pela nossa salvação: este é o fundamento da nossa esperança”. (Dom Calli).
O Advento é o grande itinerário na descoberta da força salvífica de Deus, fazendo o caminho onde se descobre a beleza e a alegria de pertencer a esse Mistério Santo e humano. Deus vem a nós, e nos faz adentrarmos na dinâmica da esperança que não dorme, mas, que insiste em permanecer acordada, no vislumbrar os montes por de onde vem o mensageiro da Paz. A preparação para o Natal é a caminhada do povo de Deus na esperança de um Novo Tempo, onde o Senhor desce do Céu e se encarna no seio da Virgem Maria, uma jovem mulher comprometida com a escuta e a vivência da Palavra Divina na solidariedade com os pobres e vulneráveis na fidelidade ao chamamento divino. Advento é tempo de acolher a plenitude dos tempos predita pelos profetas.
Maria entra na história como a jovem virgem que assume o Projeto de Deus. A primeira a viver a espera, o desconhecido, os conflitos sociais e culturais. No entanto, nada a prendeu, mas, totalmente confiante na Trindade Santa em uma resposta de fidelidade criativa. Assim pode se dizer com S. Bernardo: “Ó Virgem, maravilhosa e digna de toda admiração! Ó mulher, mais do que qualquer outro venerável, mais do que qualquer outra mulher um objeto de admiração; Você reparou a culpa de seus pais, deu vida à sua posteridade!” (Bernardo de Claraval., Hom. 2, 1-3)
Irmã Maria Freire da Silva
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.