Artigo Mensal: Maria Mãe de Deus, Gregório Nazianzeno e Basílio Magno

Ao iniciar o mês de janeiro de 2023, temos a Solenidade de Maria Mãe de Deus. O título de Mãe de Deus, definido e proclamado no Concílio de Éfeso (431), com o termo Theotókos. São Cirilo de Alexandria faz seu discurso inflamado na abertura do Concílio. Trago alguns aspectos: “Salve, Maria, templo onde mora Deus, templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: “O teu templo é santo e admirável em sua justiça”. Salve, Maria, criatura mais preciosa da criação; salve, Maria, puríssima pomba; salve, Maria, lâmpada inextinguível; salve, porque de ti, nasceu o sol da Justiça! Salve, Maria, morada da infinitude, que encerraste em teu seio o Deus, infinito, o Verbo unigénito. Salve, Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas; bendita pelos pastores, quando com os anjos cantaram o sublime hino de Belém: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”.

Celebrar a Solenidade da Mãe de Deus, significa tomar consciência da experiência de Maria no evento salvífico de Deus, sua pertença ao Projeto, sua dedicação, e permanente abertura à voz do Espírito Santo, como instrutor na caminhada. Precisa refazer o itinerário mariano desde a Anunciação do mensageiro(Lc1,26-38), onde Maria põe seu ouvido à escuta, permitindo a Palavra de Deus tomar carne em sua carne. Seu ‘Sim’ é a reviravolta da história, mostra a capacidade de decidir sobre sua vida a partir de Deus, a partir do chamado. Há um descentrar-se de si que a coloca em movimento, a caminho, apressadamente, para o encontro com Isabel. Sua saudação é motivo de alegria aos ouvidos de Isabel, que por sua vez exultante no Espírito Santo a proclama Bendita entre as mulheres e Bendito o fruto que Maria traz no ventre.

Entre tantos os santos, celebramos, no dia 02 de Janeiro, o célebre luminar do Oriente, Gregório Nazianzeno que nasceu em Arianzo em torno de 329-330, um pequeno vilarejo no país de Nazianzo na cidade da Capadócia, onde seu pai, também de nome Gregório, era bispo. Nasceu numa família abastada, o que lhe tornou possível uma formação sólida. Era o segundo filho, precedido por sua irmã Gorgônia e sucedido por Cesário que se tornou médico e funcionário do império.

Gregório teve em sua educação, a influência sólida e cristã de sua mãe, mulher de personalidade forte que influenciou na conversão ao cristianismo o próprio marido Gregório, o Velho. Era um homem erudito, apaixonado pela literatura, um poeta de estilo refinado, ascético e com sensibilidade artística, uma das figuras mais originais e interessantes do cristianismo oriental, dono de um requintado “corpus linguísticus” literário. Ele indica-nos um caminho através de sua ousadia em utilizar o saber do seu tempo, a filosofia, para elaborar uma linguagem sobre Deus, capaz de dialogar com a cultura. Tornou-se um famoso orador e teólogo, sendo muito perseguido pelos arianos. ( MORESCHINI, 2010 p. 10). Poeta do Mistério trinitário afirma que a unidade é adorada na Trindade, e a Trindade é adorada na unidade. Deus é Comunhão e Unidade. No mesmo dia celebramos também outro grande luminar eclesial do mundo Oriental: Basílio Magno. Nasceu na cidade de Cesaréia, capital da província da Capadócia da Ásia Menor (atual Turquia) entre (329 e 330). Pertenceu a uma família rica e cristã que sofreu perseguições durante o governo Tetrárquico de Diocleciano. Estudou nas escolas filosóficas de Bizâncio, Antioquia e Atenas e tornou-se Bispo da cidade de Cesaréia em 370 d.C.

No século IV Basílio esclarece quem é o Filho em duas ocasiões em seu ataque contra “Eunômio”, no livro IV sobre o Espírito Santo. Basílio parte da acusação que lhe faziam porque usava a seguinte doxologia: “Glória ao Pai, com o Filho e com o Espírito Santo” e “Glória ao Pai pelo Filho no Espírito Santo”. Ainda afirma Basilio: O caminho do conhecimento de Deus é, por meio, do único Espírito, mediante o único Filho até o único Pai. E em sentido contrário, a natureza da bondade, a santidade segundo a natureza e a dignidade real se estende do Pai mediante o Unigênito até o Espírito. Quero sugerir para os leitores, a linda poesia de Gregório Nazianzeno (séc. IV)

Tu és o além de tudo,
afinal, o que mais pode-se dizer de ti no canto?
Como poderá louvar-te a palavra?
Afinal, nenhuma palavra pode te narrar
Como te contempla o intelecto?
Afinal, nenhuma inteligência pode te captar.
Só tu es inefável,
pois as palavras a ti devem sua origem.
Só tu es o incognoscível,
pois os pensamentos a ti devem a origem.
Todas as coisas te cantam,
tanto as que têm voz,
quanto as que não a têm.
São comuns os desejos
de todo ser criado,
comuns os gemidos
que te cercam totalmente.
Com súplice oração
te invoca o tudo.
A ti é dirigido um hino de silêncio:
pronunciam-no todos os seres
que contemplam tua ordem.
Só por ti tudo permanece.
Só por ti tudo se move
no movimento universal.
E de todas as coisas,
tu és realização:
um, tudo, ninguém,
mesmo que não sejas nem único nem todos.
Tens todos os nomes: como te chamar,
se és o único que não se pode nomear?
Filho do céu, que intelecto penetrar
que se estendem por sobre as nuvens?
Sê benigno, tu que és o além de tudo;
afinal, o que mais poder-se-ia dizer de ti no canto?

 

 

Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

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