O mês de novembro traz em seus dias muitos santos, entre os quais está Santa Cecília. Cecília era uma jovem romana, pertencente à nobreza, foi martirizada por volta do ano 230, durante o império de Alexandre Severo e o Pontificado de Urbano I. Seu culto é antiquíssimo: a Basílica a ela dedicada no bairro romano de Trastevere é anterior ao edito de Constantino. A sua veneração remonta ao século VI e o seu culto encontra-se nos mais antigos sacramentários, como o Leoniano, o Gelasiano e o Gregoriano. Cecília, cristã e pertencente a uma nobre família romana, viveu entre os séculos II e III d.C.; as origens familiares de Cecília, sua educação religiosa cristã, seu noivado e casamento com um jovem patrício chamado Valeriano, de cultura pagã espelha sua realidade. Na noite de seu casamento ela revela ao marido pagão, Valeriano, seu desejo de permanecer virgem, induzindo-o também a se converter ao cristianismo.
Cecília revelou-lhe que um anjo cuidava dela e de sua virgindade. Valeriano pediu então uma prova, mas Cecília explicou que só depois de purificado pelo sacramento do batismo ele poderia ver o anjo. Valeriano enquanto observava Cecília em oração, viu um anjo segurando duas coroas de flores para o casal. Na verdade, seu marido Valeriano parece ter sido um homem respeitável e assim que soube desta notícia, e também de que Cecília havia feito voto de castidade, compreendeu a escolha e, de fato, concordou em educar-se na fé cristã e, portanto, em ser batizado.
Assim que isso aconteceu, uma noite, enquanto Valeriano voltava para casa, encontrou um anjo ao lado de Cecília, que abençoou ainda mais o casal, colocando em suas cabeças duas coroas de rosas e lírios. A partir desse momento ambos começaram a converter pagãos em Roma e o primeiro a ser batizado foi o irmão de Valeriano, Tibúrcio . Esta atividade de proselitismo deles, no entanto, colidiu com a ausência de Roma do tolerante Alexandre Severo e a presença do inflexível juiz Almachius. Ao descobrirem as atividades, Valeriano e seu irmão foram imediatamente decapitados. Pouco depois, o mesmo veredito de culpa caiu para Cecília. A princípio, o juiz a condenou à morte por asfixia dentro do quarto da mulher, que estava inundado de fumaça e vapores muito quentes. Depois de um dia inteiro e até uma noite, os soldados que reabriram a sala para se certificarem de que Cecília estava morta, encontraram-na ainda viva.
O juiz Almachius recorreu então às medidas mais extremas e ordenou ao carrasco que a decapitasse também. Após três golpes certeiros, porém, o executor da pena não conseguiu retirar a cabeça da futura santa e, assustado com o ocorrido, fugiu, deixando em agonia a pobre Cecília. Outros cristãos imediatamente correram para consolá-la e encharcaram panos de linho na poça de sangue; Urbano, o Papa da época, deu-lhe o último adeus, a quem a santa deixou sua casa, com a oração de transformá-la em Igreja. A promessa foi cumprida e a basílica de Santa Cecília em Trastevere parece ser a antiga casa da mártir cristã. O nome de Cecília é sinônimo de luz.
Esses traços pagãos, segundo o estudioso Thomas Connolly, estariam presentes na figura de Cecília, na verdade, segundo a antiga liturgia, em Cecília reside a imagem da mulher sábia como intermediária entre o conhecimento divino e o conhecimento humano: uma característica também sugerida pelo próprio nome, caecilia, ligada à luz do conhecimento divino, como sacerdotisa, Sibila e virgem, portanto uma figura musical privilegiada para desfrutar da harmonia divina. Uma virtude que se manifesta em Cecília quando, com a força da sua eloquência, converte numerosas pessoas; característica que, no contexto iconográfico, fará com que a santa seja representada sentada num trono, por vezes com uma caneta ou um livro na mão.
Cecilia, poetiza de um Novo Tempo, que se deixa iluminar pela chama divina, cantora das verdades reveladas. Cecília, que “entre os instrumentos incandescentes de tortura, cantava a Deus em seu coração”. A antífona neste momento não se referiria, portanto, ao banquete de casamento, mas ao momento do martírio. Cecília torna-se não apenas metaforicamente ou não padroeira dos músicos, mas testemunha da verdade de Cristo, para as mulheres. Sair, anunciar o Evangelho aos pagãos foi para Cecília, uma opção radical no seguimento a Jesus Cristo, foi inteiramente de Cristo, revestiu-se do Evangelho, cantou as maravilhas de Deus, foi ousada e profetiza até a morte, cansou seus torturadores, não doou a cabeça facilmente, enfrentou as torturas com dignidade evangélica, cobriu-se do amor misericordioso, converteu seus perseguidores. Nesse processo sinodal, que estamos vivendo, Cecília demonstra a sinodalidade construída conjuntamente com aqueles que ela vai conduzindo à conversão, testemunhando Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado. Cecilia foi diante do imperador, denunciou os sofrimentos causados aos pagãos convertidos. É a capacidade geradora de vida que a mulher tem, sua interação com o mundo e com a diversidade. Consagrada a Deus, totalmente enamorada de Jesus Cristo e de seu Projeto, ofertou sua vida em oblação sanguenta pelo martírio.
Fontes de Pesquisa:
https://www.ilpensieromediterraneo.it/santa-cecilia-tra-musica-arte-e-tradizione/, disponível em 25.10.2023.
https://www.impagine.it/cultura/la-breve-storia-di-santa-cecilia-patrona-della-musica/disponível em 25.10.2023.
Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.