O mês de maio celebra a vida, a experiência de muitos santos e santas da Igreja. Está em realce as festas com os títulos diversos de Nossa Senhora, já que maio é dedicado a Virgem Maria Mãe de Deus e Mãe da Igreja.
Maio inicia-se com a festa de São José Operário, homem justo, inspirado pelo Espírito Santo, que soube descentrar-se de si mesmo para centrar-se no cuidado e defesa do Menino Jesus, ombro a ombro com Maria.
Entre tantos santos, temos Atanásio de Alexandria, Padre e Doutor da Igreja no século IV. Homem de grande envergadura teológica referente a Encarnação do Verbo, de personalidade enérgica, inteligente, versátil na arte da interpretação da Palavra de Deus e na ascese Cristã. Sua obra famosa: “Por que o Verbo se fez carne?”, traz para nós a compreensão sobre Jesus o Filho de Deus encarnado. Atanásio defende o sentido da encarnação, Morte e Ressurreição, rebatendo a Ário, que afirmava a não divindade de Jesus, dizendo ser o Filho de Deus não eterno, mas, criado do nada: por natureza não era igual a Deus, mas uma criatura. Essa discussão vai ao Concílio de Nicéia em 325, onde Jesus é reconhecido como Igual ao Pai.
Atanásio fala também de Maria como a mulher centrada em Deus e seu Projeto salvífico. Se encontra no pensamento de Atanásio a esse respeito, onde a exemplaridade de Maria como espelho de autêntica virgindade, ganha uma vestimenta ascética e espiritual. Sua postura teológica em defesa do credo de Nicéia, teve um influxo decisivo no desenvolvimento do dogma cristão, do pensamento teológico e da espiritualidade cristã, tanto no Oriente como no Ocidente.
Na alegria da celebração de tantas vidas a serviço do Evangelho, recordo o dia 08 de maio que traz para as Irmãs do Imaculado Coração de Maria, o dia da Fundação Oficial da Congregação, no Rio de Janeiro (RJ), em 1849. Celebrar o evento, nos coloca em realidade de uma Memória que não morre ao longo da Tradição Congregacional, que resgata suas fontes dando relevo a esse dia memorável, patrimônio espiritual, carismático e missionário que emerge sempre como uma fonte borbulhante insistente em evoluir. Nesse dia, toda a Congregação se põe em festa para celebrar a bravura de mulher, a Bárbara Maix, que com suas 22 companheiras, chegaram ao Brasil para dá luz ao Projeto gestado em suas entranhas, a Congregação. Bárbara uma mulher autodeterminada, cheia de personalidade, o esplendor de seu caráter havia atraído a chama divina. Ungida pela força da Divina Ruah, ultrapassou a rotina, a orfandade, os problemas sócio-econômico-político e religioso, que seu país enfrentava, e, projetou possibilidades em potencializar os talentos e dons da jovens pobres e desprotegidas da sociedade de seu tempo. Enraizada na mística cristocêntrica e trinitária em coerência com sua teologia espiritual e com o conceito paulino de mistério, onde a mística não consiste no conhecimento de uma doutrina secreta ou misteriosa, mas, no penetrar no mistério divino através de Cristo (Χριστός), e, assim no Mistério trinitário de Deus, assume toda essa dinâmica de espiritualidade no concreto da vida.
Celebrar esse dia, nos indica novos horizontes para onde devemos olhar além de nossas visões ensimesmadas nas bases intracranianas de nosso cérebro e encerradas nas cavidades do coração. É um convite à saída, a construir sinodalidade no coração da Igreja e da Sociedade, em nossos espaços de missão. Portanto, nem o tempo, nem a poeira das estrelas apagarão nossa Memória, pois à ela retornamos e dela saímos para “onde a Vida clama”. Celebraremos em cada amanhecer gestado na noite e expresso através da aurora que abraça o sol, em cada entardecer que oculta o sol para trazê-lo na manhã ensolarada. Celebramos porque nossa Memória é carregada das graças divina, do resplendor do Ressuscitado e da força fascinante e profética do Espírito que dinamiza a vida dos mais vulneráveis e dos que se põem a caminho na manifestação do Reino e de suas consequências. Bárbara “amou como ama o amor”, transpôs muros, ultrapassou oceanos para dar espaço a seu Projeto. Seu pensamento criou sua realidade, daí que suas estratégias estavam focados na sua meta. Houve descentramento humano, jogando-a na complexidade do totalmente outro.
É necessário como diz (Gleizer, 2016) ter presente que “O sentido da vida é buscar por sentido na vida. É viver com intensidade, celebrando a simples beleza do inesperado”. Ora, “O inesperado só se manifesta quando esperado” (Heráclito). O retrato apresentado de Bárbara Maix tanto na sua fidelidade a Deus, como no serviço aos pobres, e no progresso espiritual corresponde perfeitamente à figura discipular no seguimento a Jesus Cristo. Portanto, ousadia e oração se articulam em uma mente pensante perpassada por uma inteligência espiritual capaz de desenvolver potencialidades de comunhão e unidade em perspectiva solidária, na defesa da vida humana e da casa comum. Exultantes podemos declamar a Trindade Santa:
A Ti beleza transcendente,
Imanente em nosso coração,
Razão que dá sentido na busca de sentido,
Sobe a Ti, minha oração, derrama de Ti, o perfume da unção.
A Ti beleza inigualável, melodia que não se repete,
Notas que constroem a música da vida,
Nas linhas de nosso cérebro e no espaço de nosso coração,
Dança, no banquete sagrado que é nosso chão. (Ir. Maria Freire, 2023)
Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.