Noviciado vivencia a experiência na Comunidade da Trindade: acolher, peregrinar e transformando vidas

Retiro – Experiência de Deus na práxis do dia a dia

Por: Irmã Aldinha Inês Welzbacher

Local: Comunidade da Trindade – Salvador/BA.
Data: 09 a 19 de novembro de 2024
Participantes: Irmã Aldinha Inês Welzbacher
Noviças: Jéssica Boteau, Magdala Joseph, Wanda da Glória
e Helder Almeida

A oração do pobre, eleva-se até Deus
(Sir 21,5).

A Igreja da Trindade é um lugar de acolhida para os caminhantes cansados, abandonados. Um lugar de descanso para os que vivem nas estradas e ruas da cidade. Ela é uma igreja que peregrina nas trilhas da justiça e da paz. Ruas, calçadas, viadutos, pontes, becos e marquises se transformam num segundo santuário. Sua “espiritualidade peregrina” perpassa toda a atuação e vida das pessoas engajadas, em seu projeto. A Comunidade da Trindade é uma comunidade que vive uma espiritualidade Trinitária e Peregrina, em Salvador/Bahia.

A Comunidade contribui para o diálogo ecumênico e inter-religioso. Há uma experiência de vida religiosa Intercongregacional, onde se reúnem irmãos e irmãs que partilham o mesmo chamado a uma vida comunitária e peregrina. Na comunhão peregrina da Trindade, partilham a palavra, o pão e a esperança de que um dia justiça e paz se beijarão. “Eles sentem o cheiro das ovelhas esfarrapadas. Dão colo humano tão necessário neste tempo conturbado, em que vivemos, de nossos irmãos e irmãs que vivem na rua. São sinais visíveis do amor de Deus.

Irmão Henrique, a referência da Comunidade, viveu 11 anos sozinho e a pé, nas ruas, e 22 anos descobrindo esse carisma em comunidade de peregrinos e peregrinas. Ele tem uma experiência profunda de viver com a doce ternura da Trindade. Uma pessoa apaixonada pelos pobres e se fez pobre. No relato da Comunidade da Trindade, no Caminho, nas Ruas e no Eremitério, pulsam corações, abraços, mãos estendidas, passos peregrinos, muita fé e amor solidário.

A Comunidade do Noviciado ICM, Irmã e noviças, foram acolhidas com muito amor, carinho e alegria pela Comunidade da Trindade, uma experiência de ser e ver no outro, na outra a Luz da Trindade. Visitamos o espaço, participamos de todas as atividades da Comunidade, por exemplo: das orações, do Projeto Levanta-te e anda, dos moradores de rua… foi um momento de escuta e perceber em cada um o desejo de esperançar, acordar, levantar e andar, foi uma experiência linda e tocante; participamos do grupo dos NA (narcótico anônimos), escutamos as experiências de dor e superação, para se manter sóbrios, só por hoje. A luta que enfrentam com eles mesmos, nos fez unir a nossa prece a deles. Participamos da Celebração Eucarística dos afros, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, após ajudamos a vender a revista Aurora da Rua. Tivemos a oportunidade de irmos juntas catar e pedir verduras para a semana, principalmente para o banquete da sopa. Damos a nossa contribuição na cozinha, limpeza, horta e jardim. Destacamos a Celebração da Luz e a Celebração Eucarística, após o banquete da sopa, vivido com intenso amor e misericórdia. Um elemento forte foi a escuta, ver neles a manifestação da Doce Trindade e da sua terna misericórdia.

No dia 17 de novembro, participamos da Celebração Eucarística, da VIII Jornada Mundial dos Pobres, no Santuário da Santa Dulce dos Pobres. Tudo foi realizado pelos moradores de rua. Antes da Celebração foi oferecido café e diversas oficinas. Após a missa, teve almoço comunitário, ofertado pela Prefeitura de Salvador. Momento emocionante. Todos almoçando ao redor da mesa, um verdadeiro banquete.

De dia partilhávamos a vida e o esperançar. A noite todos/as se abrigavam no mesmo teto, no papelão que se tornava a cama para todos/as, sobre o doce e acolhedor colo da Trindade.

Ficou relevante e desafiador para nós, o sentido de pertença da Comunidade Trindade em viver, a simplicidade, a humildade, aceitação, o respeito de cada um/a de quem vem da rua, fazer parte da Comunidade, eles não são diferentes de nós. Conforme o Papa Francisco: Ninguém está excluído do seu coração, uma vez que diante d’Ele todos somos pobres e necessitados. Somos todos mendigos, pois sem Deus não seríamos nada. Se manifesta forte na Comunidade a frase: “Quando ninguém me quis, alguém me aceitou” (Santa Dulce dos Pobres).

Nossa profunda gratidão a querida Irmã Maria Freire, Diretora Geral da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, por nos proporcionar essa rica experiência. Gratidão ao Irmão Henrique e equipe por nos acolher na Comunidade da Trindade. O amor que demonstram aos moradores de rua é visivelmente a demonstração do amor e misericórdia de Deus.

“A vocação peregrina, o “ser peregrino”, perpassa a história da Humanidade. A Humanidade nasceu peregrina, nômade. Mesmo sedentária hoje, guarda na sua memória suas raízes peregrinas” (Ir. Henrique, peregrino da Trindade). Jesus foi um peregrino e segue sua peregrinação com a Humanidade.

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