No cristianismo do século IV, S. João Crisóstomo, ao falar da Palavra de Deus referente ao batismo cristão, afirma que o batismo conduz a imitação de Cristo, deve realmente expressar uma vida consagrada a Deus, em imitação do justo lembrado nas Escrituras, como Abraão (hm. 8,7), o apóstolo Paulo (hm. 5,19), o centurião Cornélio (hm. 7,29) e em imitação dos Mártires, cujos venerados na Igreja(hm. 7,1-5).
O mês de setembro, dedicado à Palavra de Deus, traz como Tema: a “Carta de São Paulo aos Gálatas”, e como Lema: “Pois todos vós sois UM só em Cristo Jesus (Gl 3,28d). A Carta traz presente o dinamismo da palavra de Deus a partir do batismo, articulando-o à vida em comunidade. Há uma unidade, superando os preconceitos na unidade, ser UM só em Jesus Cristo. A Pessoa de Jesus apresenta um novo direcionamento relacional baseado na liberdade.
Há que se considerar, que a unidade está ligada a diversidade e vice-versa. Uma não existe sem a outra. Essa é a dinâmica da Carta que tem em seu centro o “Hino Batismal”(TB, p.21), onde mostra a força do seu núcleo: Jesus Cristo. Essa realidade, a unidade, oferece uma abertura suscitada pelo Espírito Santo sem precedentes. A comunidade revestida da graça batismal deve se abrir e acolher a diversidade, descentrando-se de si para encontrar-se com o outro, o diferente e formar comunidade. São Jerônimo disse que “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Deve existir um diálogo verdadeiramente pessoal, porque Deus fala com cada um de nós através das Escrituras Sagradas e tem uma mensagem para cada um. A Palavra de Deus gera comunhão, gera comunidade, gera a Igreja. Ora, “Aqueles que leem muito estão cheios e penetram no significado do que lêem; e aqueles que encheram podem irrigar os outros.” (Santo Ambrósio).
No século IV, Santo Agostinho denominou Deus de: “Beleza sempre Antiga e sempre Nova”. Beleza essa, que cria e re-cria, numa autodoação de si mesmo na evolução do mundo e da kénosis na Cruz, para ressurgir plenamente na manhã da Ressurreição. A realidade do Deus uno e trino, constitui ser um com o outro, para o outro, no outro, numa pericórese (comunhão) de amor, inter-relação de comunhão. Essa realidade divina se revela na Palavra quando a lemo-la, deixamo-la penetrar em nossos ouvidos, levamos ao nosso coração e devolvemos ao universo, através de nosso compromisso com os mais vulneráveis em nossos espaços de missão.
Ter ouvido – ouvinte da Palavra que penetra a mente, coração e entranhas, Ambrósio de Milão exortava: “Limpa teu ouvido, para que recebas as águas límpidas da divina Escritura em vaso puro…” Escutar é fundamental, deixar a Palavra gerar impacto em mim, me desafiar para a solidariedade. Nesse dinamismo, a pessoa não se cansa da beleza divina, revelada na Palavra, pois quanto mais busca, mais cresce o desejo, adentrando-se num processo de conversão, atraídos pelo Verbo, mistério belo e esplendor da verdade. A Palavra de Deus nas Escrituras é a carta escrita pelo Espírito Santo no coração do fiel( Orígenes séc. III) Na escuta silenciosa da Palavra divina o Espírito se revela como Aquele que anuncia as coisas futuras.
Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral da Congregação da
Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria