O mês de agosto em sua lista abundante de santas e santos, traz um nome pouco conhecido para nós: Santa Filomena, virgem e mártir datada no século III para o séc. IV do Cristianismo primitivo. A veneração pela Igreja Católica Apostólica Romana iniciou-se em meados do século XIX. O pouco conhecimento sobre sua vida chegou à Igreja através de revelações privadas, que teriam sido recebidas pela Serva de Deus Maria Luisa de Jesus (1799-1875) em agosto de 1833, na cidade de Nápoles. Essas revelações, por obediência ao seu diretor espiritual, foram transcritas e a veracidade de seus escritos foi atestada pelo Santo Ofício (atual Congregação para a Doutrina da Fé), em 21 de dezembro do mesmo ano.
De acordo com a tradição popular Filomena nasceu em Corfu na Grécia. Filomena teria sido filha de um rei da Grécia, que se converteu ao cristianismo e, por isso, tornou-se pai. Aos 13 anos, ela se consagrou a Deus com o voto de castidade virginal. Ao mesmo tempo, o imperador Diocleciano declarara guerra ao seu pai: a família foi obrigada a transferir-se para Roma para entabular um tratado de paz. Foi prometida ao Imperador Diocleciano para ser sua esposa em troca da pacificação de confrontos políticos. O Imperador, por sua vez, impressionou-se com a beleza da jovem, mas, Filomena recusou a casar-se, porque havia eleito Jesus Cristo para seu esposo, o Tudo de sua vida. Transtornado pela rejeição da jovem, Deocleciano ordenou, que a colocassem num cárcere e a flagelassem de modo sangrento.
Mesmo apaixonado pela donzela; mas, ao ter seu pedido rejeitado, o imperador a submeteu a uma série de tormentos, dos quais sempre foi salva, até à decapitação definitiva. O ódio do Imperador era tanto que mandou flechá-la, mas não a acertaram; pensando ser os deuses dela que as desviavam. Ele mandou aquecer as flechas no fogo e atirar nela, mas as flechas com suas pontas quentes, no lugar de acertar voltaram para trás e mataram seis flecheiros. Depois de derrotado com este prodígio de Deus salvando Filomena, o Imperador mandou jogá-la no rio Tibre com uma ancora ao pescoço. Veio um anjo e cortou a corda. A âncora foi para o fundo, onde se encontra até hoje. Ela nem sequer molhou o vestido. Depois de vários tormentos sendo Filomena sempre curada dos castigos, Deocleciano querendo dar um fim, mandou cortar-lhe a cabeça. (VN)
Era 10 de agosto, uma sexta-feira, às 15 horas. Alguns cristãos corajosos, com grande risco de suas próprias vidas, recolheram a noite o corpo de Filomena, Mártir da Virgindade e heroína gloriosa de Jesus, seu místico Esposo, e o sepultaram numa catacumba nos arredores de Roma, que hoje se chama Santa Priscila. Duas âncoras, três flechas, uma palma e um lírio eram os símbolos representados nas lajes de terracota do cemitério de Priscila, que foram interpretados como símbolos do seu martírio. Eles colocaram uma jarra de vidro contendo seu sangue próximo ao corpo. Acima dos três tijolos de terracota que fechavam o nicho, estava pintada em vermelho esta inscrição simples e comovente: “Pax Tecum Filomena” ou “A paz esteja contigo, ó Filomena”. Algumas indicações importantes estavam delineadas nos tijolos: uma palmeira, emblema do martírio; três flechas; duas âncoras; um lírio, símbolo de pureza. No entanto, um estudo mais aprofundado dos achados arqueológicos constatou a ausência da escrita Mártir, fazendo decair a possibilidade da sua morte por martírio. Sobre a ampola, encontrada ao lado dos restos mortais, foi comprovado, outrossim, que o líquido contido não era sangue, mas perfumes típicos das sepulturas dos primeiros cristãos. Enfim, o corpo era de uma donzela, morta no século IV, sobre cujo sepulcro foram colocadas lajes, com inscrições de um sepulcro antecedente.
A Sagrada Congregação dos Ritos, por ocasião da Reforma Litúrgica dos anos 60, eliminou o nome de Filomena do calendário. Porém, seu culto permaneceu. O corpo de Filomena, Mártir de Jesus Cristo, permaneceu ignorado durante dezessete séculos nas catacumbas de Santa Priscila, ao longo da Via Salaria.
A sua descoberta ocorreu em 25 de maio de 1802 , sob o pontificado de Pio VII . Assim que o túmulo foi limpo da terra e dos detritos que o escondiam, apareceu a inscrição com o nome do Mártir: Pax Tecum Filumena. A sepultura foi aberta com todo o cuidado na presença das autoridades eclesiásticas competentes e o Corpo glorioso, juntamente com a jarra de vidro com o sangue seco, foi transferido para o Tesouro das Relíquias que se encontra em Roma.
No entanto, a importância da jovem mulher no cristianismo dos primeiros séculos, percorre o itinerário de tantas mulheres martirizadas sob o despudoramento dos que governavam e acreditavam que a mulher era sua propriedade. Filomena retrata a força da juventude cristã, capaz de discernir o que é o centro de sua vida, e porque vale apenas doar-se por inteira: Jesus Cristo. Filomena é o arquétipo da juventude renascida sempre mais, pela força da Divina Ruah, capaz de superar as adversidades, superar o martírio, com a palma da vitória, tendo a Cruz de Cristo como a âncora e a Ressurreição como a certeza da vida nova. Essa é a bravura resistente no coração do Cristianismo primitivo, a força da mulher que não cala, mas, que proclama e testemunha com a própria vida, o Ressuscitado, o Senhor da História e da Igreja. Filomena é sem dúvida um modelo para as juventudes que assumem o compromisso no seguimento a Jesus Cristo. Compromisso que não deve ser negociado, mas, que viva com altivez a vocação recebida. Filomena viveu em Cristo, com Cristo e para Cristo. Seu caminho é uma via de resiliência, audácia, mística e profecia.
Por:
Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.
Fonte de Pesquisa:
https://www.vaticannews.va/it/santo-del-giorno/08/13/santa-filomena.html, disponível em: 31.07.2024
https://it.aleteia.org/2022/06/01/i-tentativi-di-martirio-di-santa-filomena-boicottati-dagli-angeli, disponível em: 02.08.2024